quarta-feira, 4 de abril de 2018

Entrevista com Paulo Gannam, inventor independente para o mercado automotivo


VISITE O SITE CARPOINT NEWS: www.carpointnews.com.br 

Você é criativo, curioso e ama criar ideias diferentes para resolver tudo? Então você vai se identificar com a profissão de inventor independente. Venha conhecer as invenções inovadoras de Paulo Gannam, voltadas para o mercado automotivo, Saiba também os ônus e bônus do ofício de inventor no Brasil.

1) O que pretende oferecer para a sociedade?

Uma vida surpreendente, segura, confortável, ágil, saudável, divertida, e barata por meio de soluções capazes de atender suas necessidades, pondo fim a preocupações cotidianas e a antigos problemas.


2) O que você já criou?

Um protetor de unhas destinado a uma doença que acomete de 19% a 45% da população, e costuma começar na infância. Uma película que reveste as unhas de roedores de unhas (Onicofagia) de modo elegante e discreto. O protetor inibe um hábito autodestrutivo e ajuda o usuário a identificar quais pensamentos e emoções estão envolvidos na compulsão. Sem efeitos colaterais dos medicamentos, podendo ser usado por adultos e crianças, dependendo do material.

Já para aqueles que preservam bem as unhas, concebemos uma lixa para unhas três em uma com um formato inovador, cujas extremidades lembram as de uma espátula. Assim, você pode nivelar e dar brilho à superfície das unhas sem incomodar o tato e sem gerar esfoliações na pele que fica logo ao lado da cutícula, um problema bastante observado nas lixas que tem mais de duas funções no mercado.

3) Você tem alguma proposta para o setor automotivo?

Para o setor automotivo, a primeira criação é de um aparelho constituído de botões que se comunica com um aplicativo de trânsito. Esta junção resultou em um sistema sem precedentes que permite que motoristas e motociclistas enviem todo o tipo de mensagem uns aos outros, de modo seguro, ágil e com informações bem especificadas e objetivas, visando, entre outras coisas, à prevenção de acidentes e à formação de um clima amistoso e de cooperação no trânsito. Clicou no botãozinho, pronto: uma mensagem em áudio e-ou texto é enviada. Estas mensagens podem ser pré-gravadas ou não. E quanto mais os motoristas se condicionarem a usar o sistema, mais informações serão geradas. E direcionar a aquisição desse valioso volume de informações, conhecido como Big Data, é prioridade na indústria automotiva a fim de aumentar a segurança.

Aqui podem ser encontrados dois vídeos demonstrativos de uma das formas de fazer do produto:



A segunda invenção é de um conjunto de sensores que auxilia o motorista a fazer baliza e a evitar o choque dos pneus, das rodas e das calotas durante estacionamento e encostamento junto à calçada. Ele é de baixo custo, de fácil instalação, e infinitamente mais barato e eficiente que estes park assist tradicionais hoje disponíveis no mercado e presentes, notadamente, em veículos mais caros, encarecendo-os em cerca de R$ 6 mil reais. 

Aqui você pode encontrar um exemplo de uma das provas de conceito desenvolvidas, demonstrando como um dos sensores poderia funcionar ao se executar a manobra.
 
Este auxiliar de baliza e de alinhamento do veículo junto à calçada pode estar conectado ao painel do veículo, a um aplicativo, ao cluster, etc, e assim oferecer as informações por meio de alerta visual e sonoro, contendo até instruções ao motorista durante a manobra.



4) Como funciona o processo de criação e pesquisa de um inventor independente?

Isso depende muito da bagagem técnica do inventor e dos “rituais” que ele adota para identificar e resolver problemas. Eu sou um tipo de inventor com uma quantidade muito grande de ideias, mas nem sempre com o conhecimento técnico para desenvolvê-las. Então, preciso às vezes sair em busca de quem tenha a competência necessária para me ajudar a desenvolver pelo menos as provas de conceito de algumas de minhas invenções. E encontrar pessoas confiáveis e sensatas nesse meio não é fácil. Leva tempo...

Muitas vezes, o inventor precisa ter mais características de administrador do que de qualquer outra coisa. Precisa ser um articulador, conhecer pessoas com competências distintas para poder atingir o objetivo de levar seu sonho até o mercado.

Por outro lado, não pode descartar totalmente o lado artístico e muitas vezes romântico da profissão, ao estilo de um trecho da canção de Jim Croce, “I got a name”, que diz que “se eu chegar a lugar algum, chegarei lá orgulhoso”.  Esse tipo de pensamento já me ajudou muito a perseverar e a esquecer um pouco rivalidades e competições excessivas peculiares ao mundo dos negócios.

Quanto ao processo de criação, ajuda muito você ter um temperamento irritadiço e insatisfeito com as coisas do jeito que estão. Colocar o pé na estrada, tomar um cafezinho e observar as pessoas são rotinas que também ajudam. Qualquer objeto ou comportamento é passível de melhoria se você entrar numa frequência inventiva.

Só que hoje não basta o inventor criar um produto, patenteá-lo e achar que seu conceito vai chegar ao mercado só porque ele e seus amigos acham a ideia legal. É necessário que ele passe a estudar conceitos de validação da ideia, de inovação de valor, de startup enxuta, curvas de intersecção tecnológica, estratégias de marketing, propriedade intelectual, e assim por diante.

Há muita concorrência no mercado e uma enxurrada de ideias que são boladas todos os dias por startups e universidades, com pitches de alto padrão  (pitch é uma apresentação sumária de 3 a 5 minutos com objetivo de despertar o interesse do investidor pelo seu negócio). Por isso,  uma simples ideia, sem os devidos dados de pesquisa e argumentações comerciais, corre o risco de não valer nada!


5) Que inovação pertinente já causou impacto, ou pretende causar futuramente?


Sem dúvida, a do sistema de cooperação e comunicação entre motoristas. Há grande preocupação com os novos sistemas de automóveis conectados que contribuem para a condução distraída. A maioria dos estados norte-americanos, por exemplo, aprovou leis que proíbem o uso de dispositivos celulares de mão ao volante e mais estados estão passando leis sobre mensagens de texto durante a condução. O carro conectado abordará muitas dessas questões, mas o impacto da legislação ainda não está claro. Os consumidores continuarão a insistir no uso da tecnologia sem fio ao volante. 

Por isso, cabe às montadoras e sistemistas encontrar maneiras de oferecer uma experiência de conectividade perfeita em smartphones e carros conectados. E meu sistema é capaz de contribuir para isso. A diferenciação virá da inovação e dos novos recursos que equilibram a funcionalidade em relação à segurança, para que os motoristas controlem o seu mundo digital de trás do volante. Embora vejamos grande promessa em veículos autônomos, relatórios recentes projetam apenas que 4% dos 2 bilhões de carros no mundo em 2035 será autônomo. Isso deixa mais de 95% dos carros sem recursos autônomos quase 20 anos a partir de agora. Então não dá para esperar. É preciso criar sistemas intermediários durante a transição.

6) Que tipo de retorno você obteve? Atendeu as suas expectativas? O que você esperava?

Se você conhecer um inventor dizendo que ganhou rios de dinheiro no Brasil, desconfie, pois, muito provavelmente, ou ele é um mentiroso, ou ele pertence a um “seleto” grupo de pessoas físicas – não vinculadas a institutos de pesquisa e universidades – que conseguiram licenciar ou vender por um bom valor a patente de seu invento, após heroicos esforços.

No momento, estou em negociação com empresas e intermediários de investidores. Não é fácil você fechar parceria com empresas e investidores. Na verdade, é muito difícil! Pois o que está rolando hoje é se investir em empresas e não em produtos. E o trabalho do inventor é focado na criação e desenvolvimento de produtos. Ele não quer, nem tem tempo ou competência comercial e fabril para implementar seu projeto no mercado. Então seu projeto só irá chegar às prateleiras se um investidor com perfil raro no Brasil se interessar pela inovação dele, depois de um longo período de negociação que inclui analisar e tentar converter a ideia num negócio lucrativo e escalável.

7) O que você já conseguiu implementar na prática?

Não é o inventor independente, pessoa física, depositante de um pedido de patente, quem implementa o projeto dele, na maioria das vezes. O inventor procura por empresas estabelecidas, nascentes ou emergentes que sejam capazes de fazê-lo com base na ideia original do inventor e-ou em seus desdobramentos. Este é um mal entendido muito comum até no mundo dos negócios. O inventor precisa se aproximar de empresas que tenham como prática ou previsto em suas políticas o investimento em novas patentes e produtos, incorporando-os em seu portfólio por meio, por exemplo, do licenciamento ou aquisição definitiva da patente.


8) Como os produtos são recebidos?
Das mais diversas formas. Depende da empresa ou da pessoa para quem você apresenta a ideia, e da forma com que você as aborda. Há, por exemplo: 

1- Os especuladores: Quando o inventor não aguenta mais arcar com os custos de seu pedido de patente e não encontra um investidor em tempo. Com o bolso apertado, ele deixa de pagar taxas no INPI e seu pedido é arquivado. Nessa hora entram em cena as “empresas abutres”, que irão pegar a carcaça (patente) que caiu em domínio público para poderem fabricá-la e comercializá-la sem terem legalmente de pagar um tostão ao inventor.

2- Os invejosos: estes são aqueles que costumam apedrejar a ideia do inventor ao tomarem contato com ela. Normalmente funcionários do "baixo clero”, que se sentem ameaçados por ideias advindas de fora da empresa em que trabalham.  Ficam com dor de cotovelo e não embasam sua opinião em argumentos técnicos, apenas dizem sua própria impressão como consumidor, e usam tecnologias muito avançadas para justificar o quão dispensável é a ideia do inventor. Não entendem de inovação, e nem mesmo de negócios. Se entendem, não estão a serviço desse conhecimento e sim da preocupação excessiva com a própria carreira.

3- Os fingidos: empresários ou funcionários que pedem o máximo de informações possíveis do seu projeto, para depois lhe retornar com um diplomático “não”. Eles vão aproveitar as informações passadas pelo inventor para desenvolverem seus próprios produtos. Fingem ter interesse para o inventor ficar animado com a possibilidade de um negócio fechado. O inventor, por ser a parte mais fraca na relação negocial, pode acabar evitando de pedir assinatura de um NDA (termo de confidencialidade) e se estrepando.

4- Os sensatos: aqui está uns 10% por cento de empresários e empresas idôneas que possuem protocolos claros e justos quanto ao trato com ideias de inventores externos. Recebem a ideia, a analisam, normalmente assinam NDA e dão um retorno detalhado sobre o porquê da aceitação ou negativa sobre o projeto.

  9) Acredita que as burocracias atrapalham a vida e a criatividade do inventor independente?

Não tenha dúvida. O INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), apesar dos intensos esforços dos profissionais que nele atuam, está carente de pessoal, o que retarda a análise em cerca de 10 anos entre o depósito do pedido e a concessão ou negativa da carta-patente. Esse tempo é o suficiente para tornar sua patente obsoleta e, além disso, desestimula investidores a aplicarem recursos numa tecnologia sem segurança jurídica para exploração comercial. 

Outro ponto é a falta de programas voltados ao inventor independente, pessoa física, para que ele possa, por exemplo, desenvolver um protótipo, elaborar e depositar seu pedido de patente, validar o conceito do produto entrevistando pelo menos umas 30 pessoas, e efetuar um estudo de viabilidade econômico-financeira do projeto. 

Quase 100% dos programas existentes exigem que o inventor trabalhe em equipe, tenha CNPJ, apresente determinadas qualificações para alavancar uma empresa, e assim por diante.  Esses editais vão na contramão da inovação porque o foco precisa estar na qualidade do projeto em si, que nascido ou não dentro de uma empresa, por alguém com diploma ou não, desenvolvido por uma equipe ou não, pode trazer renda, impostos, empregos e salários que mantém toda uma sociedade. 

Exigir CNPJ do inventor é burrice, é entrave, e faz aumentar o número de patentes engavetadas no Brasil, que, aliás, é campeão nisso. Dos 22 mil pedidos de patente processados em 2016 no Brasil, 68% foram retirados ou abandonados pelo solicitante. Em 2017, dos 41 mil pedidos processados, 78% do total foi retirado e arquivado por falta de pagamento de taxas – que por si só já são doentias. Porque quem inova está fazendo um favor ao Estado, não o contrário.

Deveria haver todo o tipo de incentivo para que, por exemplo, pessoas físicas, inventores independentes, pudessem depositar seu pedido e ter uma análise acelerada do processo. Esses inventores, PF’s, residentes no Brasil, foram responsáveis em 2017 por aproximadamente 47% dos pedidos de patente de invenção e por cerca de 68% dos pedidos de patente de modelos de utilidade protocolados no INPI. Então há muito o que mudar na cultura e na legislação

Créditos: Julia Pessoa, Novo Varejo www.novovarejo.com.br.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, opine.