sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Desafio da inovação transcende ao IPI


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Por João Guilherme Sabino Ometto*
Foto: Marcus Lauria / Kia Picanto 2012

A despeito da polêmica gerada, das insinuações de eventual retaliação chinesa e das reações de políticos, empresas e segmentos do pensamento nacional, é preciso reconhecer que, na presente conjuntura, foi pertinente o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos importados. Afinal, com a crise na Europa e nos Estados Unidos, o aquecido mercado brasileiro está sob pesado ataque das nações exportadoras à caça de compradores.

Nesse cenário, exercem concorrência desigual contra as empresas brasileiras, fabricantes de países que depreciam artificialmente suas moedas e adotam outras medidasnão-alinhadas à economia de mercado para ampliar sua competitividade. Esta é a equação básica da desindustrialização diagnosticada por distintos segmentos da manufatura nacional. Em setores geradores de mão de obra intensiva, altos volumes de renda e impostos, como o automobilístico, que emprega mais de 130 mil pessoas, a questão é ainda mais grave.

Por outro lado, independentemente do tema pontual do IPI, que pode ser revisto à medida que se alterem as condições mercadológicas e econômicas, a iniciativa do governo brasileiro suscita umareflexão muito relevante: devemos incentivar o investimento estrangeiro direto em plantas industriais a serem instaladas em distintas regiões de nosso território. Para vender aos nossos cidadãos e disputar nosso cobiçado mercado, nada melhor do que produzir aqui. É óbvio que, nesse processo, deve ser contemplada a transferência de conhecimento e tecnologia, incluindo a tropicalização dos veículos, de modo que atendam melhor às peculiaridades de nossa geografia e cultura de consumo.

A crescente presença de montadoras estrangeiras ampliaria de maneira saudável a competição no mercado interno, possibilitaria politica mais agressiva de exportações de carros e proporcionaria um novo avanço em termos de pesquisa e inovação. Temos imenso potencial para isso no ramo automobilístico. O melhor exemplo é o fato de praticamente todas as fábricas já instaladas no País produzirem veículos com motores flex, solução tecnológica decisiva para que o etanol e o biodiesel consolidem-se como combustíveis de fonte energética limpa e renovável, viabilizando que nossa civilização deixe de ser refém dachamada economia do carbono.

É necessário que o setor automobilístico integre de modo mais amplo e profundo os esforços na área da pesquisa e inovação, na qual ainda estamos aquém do desejável, apesar da evolução verificada neste início do Século 21 (hoje, segundo a Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, as universidades brasileiras formam 12 mil doutores por ano). Também já havíamos assumido, em 2008, a 13ª posição no ranking mundial de artigos científicos, com a publicação de 30.451 trabalhos. Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que, nesse quesito, o Brasil está à frente de vários países desenvolvidos, como Suécia, Suíça, Bélgica e Holanda. Ademais, seu número de doutores per capita supera o patamar médio dos membros daquele organismo multilateral.

Em contrapartida, o País registrou, em 2008, somente 0,3 patentes triádicas (válidas na Europa, Estados Unidos e Japão) por grupo de um milhão de habitantes, muito abaixo dos desenvolvidos e de seus principais competidores dentre as nações emergentes. No período 2003/2005, apenas 3,6% das empresas brasileiras lançaram produtos novos. Portanto, precisamos melhorar muito esses indicadores, estimulando a inovação, a pesquisa e a ciência aplicada em nossa indústria, inclusive a automobilística.

*Engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente do Grupo São Martinho, vice-presidente da Fiesp e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade.

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