quinta-feira, 5 de abril de 2018

Ford Mustang GT (texto psicografado) por Marcelo SIlva


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A reta está livre à minha frente, ótimo. Pressiono o acelerador com o pé direito com vontade, e o motor V8 aspira todo o ar que lhe convém e o espreme com o combustível. O resultado disso se traduz em pura mágica: ruído selvagem, pneus abrindo rastros no asfalto, órgãos humanos comprimidos contra o banco, ponteiro do velocímetro em êxtase e a próxima curva com uma foice na mão. São 466 cavalos montados por bestas do apocalipse, e 56,7 kgfm de torque domados por uma transmissão afiada como um tridente.

Os seis pistões mordem o disco dianteiro e geram calor suficiente para grelhar uma picanha, mas o cheiro que invade as narinas é uma mistura de fumaça, borracha e óleo, uma combinação quase erótica para os apaixonados por velocidade.

Giro o volante para a esquerda e a força G se encarrega de revirar meu almoço no estômago. Benditas sejam as abas laterais nos assentos, e benditos sejam os pneus, que aceitam ser mutilados até o escalpo para destruir aquele velho argumento de que carro americano não faz curva. Não fazia. Hoje eu acredito que um Golf GTI bem domado poderia entrar mais equilibrado nessa curva do que eu e esse Mustang, mas a reta seguinte colocaria cada um em seu devido lugar.

Após a sequência de voltas eu retorno ao pit mais cansado que o Mustang. Enquanto ele clama apenas por mais combustível, a garrafa de água não supre nem metade das minhas necessidades. E assim olho para o carro, ele é lindo, vermelho e sedutor como uma Succubus, ansioso por ser jogado novamente em uma pista aonde poderá voltar a se alimentar da alma de quem o dirige.

Esse carro não te deixa doce, ele te deixa ardido. O Camaro vendido no Brasil não dá conta nem para as saídas de semáforo, e vai ser deixado em segundo plano no estacionamento do shopping ou na porta da balada. É questão de tempo até o Mustang ser a bola da vez dos clipes de funk, jogadores de futebol pouco conhecidos e artistas de qualidade duvidosa. Uma pena, pois o lugar dele é nas pistas, desenhando o asfalto com seus pneus, devorando litros de oxigênio com seus oito cilindros e estourando tímpanos com seu ronco violento.

Obrigado Ford, antes tarde do que nunca. Vida longa ao Mustang GT.

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