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Por Marcelo Martini
De acordo com levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL), cerca de 20% dos lubrificantes vendidos no Brasil são falsificados ou adulterados. O dado chama atenção não apenas pelo impacto direto na durabilidade e no funcionamento dos motores, mas também pelos efeitos econômicos e de segurança que essa prática irregular acarreta. A presença de óleos adulterados ou falsificados no mercado compromete a confiança na cadeia produtiva e expõe consumidores a riscos de difícil reversão.
De um modo geral, a falsificação ocorre principalmente de duas maneiras. Na adulteração, o produto legítimo é diluído com solventes, água ou outras substâncias que alteram suas características originais. Já na falsificação total, o processo é mais sofisticado. Embalagens, rótulos e design de marcas conhecidas são copiados, mas o conteúdo não tem qualquer correspondência com o original.
Em ambos os casos, o consumidor deixa de receber um lubrificante formulado com pacotes de aditivos e óleos básicos adequados, desenvolvidos para atender especificações técnicas e exigências regulatórias. O que chega ao motor, portanto, é um produto incapaz de oferecer a proteção necessária.
Consequências
Quanto às consequências em relação à utilização destes lubrificantes falsificados, o principal impacto está no fato de que o motor que recebe um óleo falsificado deixa de contar com a redução de atrito, o controle de temperatura e a proteção contra o desgaste de peças metálicas. O efeito prático pode variar do aumento no consumo de combustível a falhas de funcionamento recorrentes, passando por superaquecimento e, em situações mais graves, pela perda total do motor. Pistões, bielas e virabrequim estão entre os componentes que sofrem desgaste acelerado, enquanto a formação de borras e o entupimento de galerias de óleo comprometem a circulação e o resfriamento, levando a danos de difícil reparo.
O problema não atinge apenas o consumidor final, pois o avanço da falsificação mina a confiança na cadeia de suprimentos e causa prejuízos significativos para fabricantes, distribuidores e oficinas idôneas. Quando um produto falsificado circula no mercado, não apenas o motorista é lesado, toda a rede de produção e comercialização de lubrificantes vê sua imagem comprometida. O risco reputacional, aliado às perdas financeiras, afeta diretamente a competitividade e a sustentabilidade do setor.
Responsabilidade compartilhada
O combate à falsificação de lubrificantes só será eficaz se houver envolvimento de todos os agentes do setor. Para os consumidores, a atenção aos detalhes é a primeira barreira de proteção. Preços muito abaixo da média do mercado, embalagens violadas, rótulos de difícil leitura, ausência do selo da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ou alterações perceptíveis na cor e viscosidade do óleo devem ser vistos como sinais de alerta. A verificação do lacre, do número de lote, da data de fabricação, do CNPJ e da razão social do fabricante, assim como a exigência da nota fiscal, são procedimentos simples, mas que também se mostram eficazes para reduzir o risco de fraude.
Essa prevenção também exige que o consumidor compreenda que não existem atalhos no mercado de lubrificantes. Produtos com preços muito inferiores ao praticado dificilmente têm origem regular e, na prática, acabam custando mais caro. Reparos de motor, perda da garantia de fábrica e desvalorização do veículo são consequências recorrentes da escolha por produtos de procedência duvidosa, e é justamente por isso que a compra consciente deve ser encarada como investimento, e não como despesa.
Do lado dos fabricantes, a busca por soluções que dificultem a ação de fraudadores é igualmente indispensável. Lacres diferenciados, sistemas de rastreabilidade e tecnologias aplicadas às embalagens são iniciativas já adotadas para proteger o consumidor. Em determinados casos, a adoção de embalagens com lacres exclusivos tem se mostrado uma estratégia eficiente para reduzir a margem de atuação dos falsificadores e reforçar a confiança do mercado.
A efetividade dessas medidas, entretanto, depende também da postura de oficinas, distribuidores e varejistas, que têm a obrigação de assegurar a procedência dos produtos que oferecem. Negligência nesse processo compromete a segurança dos clientes, gera prejuízos diretos e ainda pode resultar em sanções administrativas e legais para os responsáveis pela comercialização.
Em última instância, o enfrentamento à falsificação só avançará se consumidores, fabricantes e canais de venda atuarem de maneira integrada. Apenas com essa colaboração será possível reduzir o espaço para a fraude e proteger não apenas os motores, mas a própria confiança em um setor que é estratégico para a mobilidade e para a economia do país.
Marcelo Martini é Gerente de Vendas do Aftermarket da FUCHS, maior fabricante independente de lubrificantes e produtos relacionados do mundo.
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