terça-feira, 2 de setembro de 2025

Condomínios verticais estão preparados para os carregadores de veículos elétricos?

 

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Foto: Divulgação NeoCharge 

O crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil é exponencial. Com isso, surge uma preocupação cada vez mais relevante: como a infraestrutura, especialmente a residencial, irá acompanhar essa tendência? A instalação de pontos de recarga já é pauta em espaços públicos e comércios, mas precisa, com urgência, ser considerada também em residências — especialmente nos condomínios verticais, que são predominantes em algumas grandes cidades. 

Segundo a Data Zap, mais de 80% dos novos imóveis construídos em São Paulo desde os anos 2000 são apartamentos. E, ainda de acordo com o levantamento, 94% das pessoas que vivem nos principais bairros do centro expandido de SP moram em apartamentos. Ou seja, se a frota elétrica continuar crescendo, será inevitável que prédios residenciais passem a oferecer recarga como diferencial — ou como necessidade básica. 

No entanto, esse cenário envolve mais do que simplesmente instalar carregadores. A facilidade de acesso à recarga depende de fatores como: o perfil dos moradores (proprietários ou inquilinos), a idade do edifício, a capacidade elétrica do prédio e o modelo de gestão condominial. 

Nos países desenvolvidos, como Estados Unidos e Europa, o avanço dos carros elétricos se deu inicialmente entre moradores de casas, com maior renda e autonomia para adaptar suas residências. Nesses países, um estudo da ZEV Alliance relatou que apenas 28% dos proprietários e 10% dos inquilinos em apartamentos possuem as condições necessárias para ter acesso a carregadores em suas residências. 

Prédios novos: o futuro já é presente

Nos edifícios mais modernos, a questão tende a ser menos crítica. Projetos mais recentes já incluem, no mínimo, infraestrutura prevista para a instalação de carregadores em cada vaga. Ainda que a instalação não ocorra de imediato, o preparo elétrico e estrutural já facilita a adoção futura. 

Além disso, esses prédios costumam ser construídos com um dimensionamento elétrico mais robusto — pensando em usos simultâneos de equipamentos como ar-condicionado, forno elétrico, chuveiro potente e outros. Isso permite que soluções como o controle de demanda sejam utilizadas com eficiência. Por exemplo, mesmo que apenas 10 carregadores possam funcionar ao mesmo tempo, é possível instalar 20 — pois raramente todos serão usados simultaneamente. A potência se distribui entre os dispositivos, garantindo eficiência sem sobrecarga. 

Edifícios mais antigos: uma adaptação viável

Prédios com menos de 20 anos, mesmo que não tenham nascido com infraestrutura específica para recarga, já contam com padrões elétricos mais modernos. Neles, adaptações são viáveis e, geralmente, menos custosas. A instalação de carregadores pode ser feita com pequenas intervenções, e o uso compartilhado ou escalonado também é uma solução inteligente nesses casos. 

É fundamental entender o conceito de fator de demanda — que considera o uso real de energia em picos e não a soma de todas as potências instaladas. Isso permite que a infraestrutura existente atenda a mais carregadores do que inicialmente se imagina. 

Prédios antigos: o grande desafio

A maior dificuldade está nos edifícios mais antigos, construídos entre as décadas de 1950 e 1960. Nessas construções, o padrão elétrico é defasado: dutos de fiação (conduítes) estreitos, quadros de distribuição obsoletos e ausência de reserva de carga dificultam — e encarecem — qualquer tipo de modernização. Em alguns casos, a reforma para adaptação pode custar o preço do apartamento, exigindo quebra de paredes, substituição de toda a fiação e aumento do padrão de entrada de energia. 

Para esses casos, soluções coletivas podem ser mais viáveis, como a instalação de carregadores compartilhados em vagas rotativas. Ainda que mais limitadas, essas alternativas representam um avanço possível diante das restrições estruturais. 

O papel dos inquilinos e da gestão condominial

Outro obstáculo frequente está relacionado aos inquilinos. Por não serem proprietários, enfrentam mais resistência para fazer investimentos, mesmo que arcando com os custos. Pesquisas internacionais mostram que apenas entre 9% e 19% dos inquilinos em países desenvolvidos conseguem autorização para instalar carregadores. No Brasil, essa realidade é similar. 

Aqui entra o papel estratégico dos síndicos. Eles podem liderar soluções, como:

  • Instalar medidores individuais e repassar o custo de energia ao condômino;
     
  • Criar modelos de cobrança embutidos na taxa condominial;
     
  • Usar soluções de software para cobrar diretamente do usuário;
     
  • Autorizar a instalação por parte do proprietário, permitindo a valorização do imóvel e possível aumento de aluguel em troca da facilidade. 

Carregadores podem se tornar ativos valorizadores do imóvel, tanto em termos de venda quanto de aluguel. Ter infraestrutura de recarga pode ser um diferencial competitivo em um mercado cada vez mais atento à mobilidade sustentável. 

A infraestrutura das cidades ainda é o maior gargalo

Apesar dos desafios nos condomínios, o principal entrave à expansão dos carros elétricos ainda está na infraestrutura urbana. Cidades como Curitiba já oferecem boa cobertura de pontos de recarga, mas outras, como São Paulo — que lidera a venda de elétricos — ainda sofrem com escassez de locais adequados para instalação. 

Nesse sentido, o estímulo a modelos de financiamento para instalação de carregadores em estabelecimentos comerciais pode impulsionar o crescimento da rede pública e, ao mesmo tempo, gerar novas fontes de renda. 

Conclusão

A eletrificação da frota é um caminho sem volta — e os condomínios precisam estar preparados. Os edifícios novos já estão prontos, os mais recentes podem se adaptar com investimentos razoáveis, e até mesmo os mais antigos possuem soluções viáveis, ainda que mais custosas. A chave está no planejamento, no diálogo entre condôminos, síndicos e investidores, e na adoção de modelos de uso inteligente e escalável. 

* Ayrton Barros é Diretor Geral da NeoCharge, empresa referência em soluções para recarga de veículos elétricos.

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