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Por * Heitor Bucker
Há grandes mudanças ocorrendo em diferentes setores da
indústria na atualidade, bem como muitas mais previstas para as próximas
décadas. Com as alterações nos cenários tecnológico, produtivo e mercadológico
tornando-se cada vez mais aparentes, empresas atuantes no setor automotivo
buscam ficar à frente da curva, concorrendo e estabelecendo sinergia com
empresas de outros segmentos, áreas de tecnologia e modelos de negócio.
Paradigmas vistos como transformadores neste novo cenário, como a Inteligência
Artificial, a eletrificação de veículos, a tecnologia sem motorista, o
compartilhamento de carros, o “carro definido por software”, e o “carro
conectado”, integram o foco das áreas de desenvolvimento das empresas do setor.
A evolução das tecnologias em sensoriamento, acopladas à
evolução de redes 5G e de longa distância com baixa energia, da internet das
coisas e dos sistemas de mapeamento e geolocalização transformam a perspectiva
dos veículos e de seus componentes - que passam de elementos individuais para
sistemas ciber-físicos integrados aos ambientes digital e físico.
Carros se comunicarão
não apenas uns com os outros, mas também com infraestruturas em ambientes
diversos
Os fabricantes de automóveis estão atualmente reformulando a
arquitetura eletrônica e de rede dos veículos para garantir que cada subsistema
seja conectado e definido por software. Em direção à próxima década, a
indústria automotiva alcançará a mobilidade cooperativa: os carros se
comunicarão não apenas uns com os outros, mas também com infraestruturas em
ambientes diversos. A eletrificação mudará a maneira como os consumidores
alimentam seus veículos. O compartilhamento de carros e os veículos sem
motorista provavelmente levarão à consolidação de uma condição totalmente
diversa de mercado, com maior integração e uso dos diferentes modais de
transporte. Veículos simples, como as bicicletas, já adotadas de forma
intensiva em cidades da Europa e Ásia, estarão presentes ao lado de veículos
aéreos, como os VTOLs (Vertical Take-off and Landing), hoje em fase de
desenvolvimento por empresas como a Uber e Embraer. Grupos universitários (1),
no Brasil e em outros países, desenvolvem drones auto dirigíveis com uso de
Inteligência Artificial.
Tecnologias como interfaces homem-máquina e eletrônica de
corpo, aprimoram a condição física e mental de um motorista, incluindo evitar a
direção em condições de sonolência e desatenção, bem como fazem uso de sistemas
com uma ampla gama de dados para transmitir ao motorista informações
selecionadas.
A transmissão de dados e a transferência de informação
passam a ser não apenas uma via de mão dupla a partir do veículo, mas múltipla,
com dados trafegando de diferentes componentes para sistemas diversos, o que
leva a cenários disruptivos em diferentes frentes.
Em 2016, em uma das sessões do Painel Internacional do
Congresso SAE BRASIL (2), foram apresentados como componentes da suspensão de
veículos podem vir a monitorar condições das vias públicas. Em 2017, no painel
de TI (2) deste congresso, enxergamos o mapeamento com geolocalização de
cidades, ao nível de detalhe de letreiros em estabelecimentos.
Um número crescente
de novas funções, fornecedores e tarefas a serem orquestradas pelas áreas de
desenvolvimento
A crescente conectividade dos veículos resulta em um número
crescente de novas funções, fornecedores e tarefas a serem orquestradas pelas
áreas de desenvolvimento. Passa a ser necessária uma visão sistêmica, pois a
esfera de influência não está mais limitada apenas aos veículos - recursos e
funções externas também afetam as áreas altamente sensíveis de segurança e
confiabilidade. O foco em Cyber Security está cada vez mais presente.
Para dominar as inúmeras interações resultantes dentro e
fora do veículo, passa a ser essencial considerar todo o ecossistema em cada
etapa do desenvolvimento. Requer uma visão sistêmica que abranja das áreas de
desenvolvimento do produto às áreas de negócio, como também as de
infraestrutura dentro e fora do país.
Novos modelos de negócio e serviços passam a integrar
diferentes áreas do transporte de passageiros e de cargas. A possibilidade de
rastrear e processar através de sistemas de Inteligência Artificial os muitos
milhões de viagens nos sistemas de transporte - seja em sistemas de metrô,
ônibus urbanos, viagens rodoviárias ou ciclovias, ou, ainda, combinações destes
- permite aos planejadores gerenciar a carga da rede, minimizar a interrupção
da manutenção e construir sua rede de acordo com a demanda.
Sistemas integrados de logística passam a otimizar o
deslocamento de cargas através de cidades e do país. A economia compartilhada
passa a estar cada vez mais presente, haja visto as bicicletas Yellow, sem
estação. A relação de posse do veículo deixa de ser relevante. As empresas de
táxi estão se modernizando, reagindo à pressão crescente da forte concorrência
da Uber e de outros serviços de compartilhamento de carros. Concessionários e
postos de gasolina estão repensando sua estratégia de mercado incluindo a
oferta de novos serviços. Fornecedores de seguros também enfrentam cenários
disruptivos através do grande potencial de dados a seu dispor.
A integração entre consumidores e processos produtivos, até o
descarte e o reaproveitamento
Compõem os cenários atuais e futuros a integração e
aproximação entre consumidores, concepção e desenvolvimento de produtos e
serviços, infraestrutura, a cadeia de abastecimento e produtiva, o descarte e o
seu reaproveitamento. Conectar os pontos dentro da fábrica e dentro do
ecossistema da empresa, assim como o uso inteligente da informação, será cada
vez mais um requisito para se manter competitivo.
Conforme mencionado no “KPMG Global Customer Experience
Excellence report: Tomorrow experience today” (4), novas tecnologias estão
transformando cada aspecto da experiência do cliente. Empresas líderes já estão
buscando vantagem competitiva através de implementação de forma seletiva. Ver
infográfico da figura 1.
O Brasil está chegando, mas ainda de forma incipiente, na
implementação da manufatura avançada ou Indústria 4.0. Dados da Federação
Internacional de Robótica indicam a comercialização de 1,5 mil robôs no país,
uma participação de 0,005% dentro de um universo global de 294 mil unidades, em
2016. Segundo pesquisa publicada pela FIESP e SENAI, no primeiro semestre de
2018, apenas 68% da amostra composta por 227 empresas de diferentes setores e
tamanhos, tem conhecimento do conceito Indústria 4.0, e apenas 30% desses 68%
já iniciaram algum investimento nesta direção. Na Alemanha, segundo a PWC (3),
cerca de 90% das empresas declaram estar investindo na transformação digital,
em fábricas digitais e na Indústria 4.0. Hoje máquinas e outros ativos são alvo
de integração através de sistemas de execução de manufatura (MES) e integrados
às infraestruturas de ERP, de forma a conectarem não apenas os processos
internos, mas também toda a cadeia de suprimentos. Tecnologias como cobots e
sistemas de visão impulsionam a qualidade, flexibilidade e produtividade das
operações. Empresas tomam decisões mais inteligentes, embasando-se em análises
de dados, algoritmos de predição e otimização, dentre outras técnicas de
aprendizado de máquina. As soluções de realidade aumentada ajudam as áreas de
treinamento e manutenção, e permitem aos funcionários gerar produtos com zero
defeito.
As montadoras e empresas de maior porte instaladas no país
lideram iniciativas em direção à manufatura avançada. A fábrica da FCA no polo
automotivo de Goiana, no estado de Pernambuco, detém a linha de produção do
JEEP, que utiliza tecnologias inovadoras, com 700 robôs e maquinário de alta
precisão. A unidade fabril da Jaguar Land Rover instalada no Brasil é a
primeira da empresa integrada segundo conceitos da Indústria 4.0 e é vista como
referência para as demais unidades fabris da corporação. Em março deste ano, a
Mercedes-Benz finalizou a implantação de sua Linha 4.0 para produção de
caminhões. Caminhões de diferentes modelos e portes são hoje produzidos nesta
linha com flexibilidade e 15% mais rápidos. Uma perspectiva da dinâmica
envolvida nesta linha será enfoque dos painéis de Transformação Digital e
Operações Industriais Conectadas (2) do Congresso SAE BRASIL 2018. A Sabó, uma
empresa multinacional brasileira no ramo de autopeças, vem avançando na
implantação de sua estrutura fabril 4.0, integrando tecnologias de startups,
fornecedores parceiros e desenvolvimento interno.
Muitos líderes
empresariais ainda não chegaram a uma conclusão sobre as oportunidades e desafios
relacionados à transformação digital
O desafio para muitas empresas não está necessariamente em
deter o “expertise” das diferentes tecnologias, mas está em estabelecer a
perspectiva e uma estratégia gradual para o uso eficiente deslas em prol do
negócio e do cliente. Muitos líderes empresariais ainda não chegaram a uma
conclusão sobre as oportunidades e desafios relacionados à transformação
digital ou ao entendimento do salto conceitual que isso representa. Cabe trocar
ideias e refletir sobre os próximos passos dentro desse contexto. Sob este
aspecto é interessante a aproximação com organizações como a SAE BRASIL, que
congrega profissionais, especialistas e líderes do setor da mobilidade e
oferece através de ações diversas, como o seu congresso (2), uma janela de
oportunidade de relacionamento com diferentes frentes de tecnologia. Em relação
ao Congresso, que será de 3 a 5 de setembro, em São Paulo, destacam-se os
painéis Internacional (2a), de Operações Industriais Conectadas (2b) e de
Transformação Digital (2c). As
sessões do painel Internacional focam dois temas principais – “How the
automotive industry is appropriating the future now” e “How the mobility market
is evolving for tomorrow –Beyond the Megatrends”. O painel de Operações
Industriais Conectadas explora a integração da cadeia logística interna e
externa, trazendo ao palco as novidades da linha 4.0 de uma montadora ao lado
das contribuições e crescimento de uma startup em logística. No painel de
Transformação Digital, haverá uma exibição (showcase) das novas tecnologias
disponíveis, seguida por uma mesa redonda para discussão da transformação
digital na mobilidade, da qual participam CIOs e VPs de Pesquisa e
Desenvolvimento.
Ainda no âmbito da transformação digital e manufatura
avançada, faz-se oportuno uma conexão com grupos como o GTMAV (5) da ABIMAQ e
VDI (6). Na academia, vale acompanhar iniciativas como as da Engenharia Mauá,
Escola Politécnica, ITA, FEI, o LAR da UFSC (7) e o LRM da USP São Carlos (8).
Uma conexão com centros de desenvolvimento, como o Instituto Eldorado (9), o
CPqD (10), FIT (11), SENAI CIMATEC (12) e outros institutos associados ao IPD
Eletron (13) oferecem alternativas de desenvolvimento. Dentre as aceleradoras
de startups destacam-se, dentre várias, o CUBO (14) e a Oxigênio (15). A
implantação de novas tecnologias requer também evitar modernizar o desperdício.
Neste quesito cabe inteirar-se com iniciativas do Lean Institute Brasil (16),
Staufen.Taktica (17) e outras consultorias em manufatura enxuta.
O cenário é dinâmico, repleto de desafios e oportunidades –
é preciso olhar o horizonte através de lentes com foco orientado para o futuro.
* Heitor
Bucker é sócio diretor da consultoria How Who Reach, focada em projetos de
estratégia em acesso ao mercado. Participa da SAE BRASIL como Co-Chairperson do
Comitê Internacional do Congresso SAE BRASIL.
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