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Por
Milton Corrêa da Costa
Há
uma realidade, extremamente preocupante, constante e sem aparente solução, que
prossegue produzindo, quase que diariamente, tragédias em estradas e rodovias
brasileiras: o uso do chamado ‘rebite’, uma droga sintética, à base de
anfetaminas, já usada com o nome de benzedrina pelas tropas alemães, na Segunda
Guerra Mundial, para suportar a fadiga do combate e hoje muito consumida por
caminhoneiros, autônomos ou não, para manterem-se acordados por longas horas,
cumprir horários pré-determinados, efetuar um maior número de viagens,
transportar cargas rapidamente e aumentar os lucros. Uma luta desenfreada para retardar
o sono mas que tem produzido efeitos colaterais trágicos, como no acidente da
manhã desta sexta-feira (27), na RS- 122, em Farroupilha, na Serra Gaúcha, que
matou, no trecho da rodovia conhecido como‘curva da morte’, o repórter Enildo
Paulo Pereira (59 anos) e o cinegrafista Ezequiel Barbosa (27 anos), do Grupo
Bandeirantes, além de ferimentos causados em sete pessoas.
O motorista do
caminhão desgovernado, que atingiu seis veículos e colidiu violentamente, na
contramão de direção, de frente contra a caminhonete da Tv Bandeirantes matando
os jornalistas,aparentava flagrante estado de torpor -há duas noites não
dormia-desorientação espacial e fala desarticulada, tendo confessado ter feito
uso de ‘rebite’, desde de quarta-feira (25), quando deu início à viagem, tendo
a polícia encontrado o medicamento no interior do veículo. O camimhoneiro
alegou ainda que, a 5 km do local da tragédia, havia percebido que algumas
peças se desprenderam do caminhão -nem assim se preocupou em parar- e que por
problema de freio não conseguiu controlar o veículo, invadindo a contramão de
direção na chamada‘curva da morte’. Responderá agora por duplo homicídio doloso
(dolo eventual ao assumir o risco do resultado danoso) e por sete tentativas de
homicídio.
O
médico Luciano Drager, do laboratório do sono do Instituto do Coração (Incor),
em São Paulo, explica que qualquer motorista precisa ter no mínimo seis horas
de sono para repousar e ter os reflexos e a atenção preservados durante a
direção. O tempo ideal é de oito horas, afirma. “O condutor deve fazer pausas
na viagem a cada duas ou três horas para repousar, lavar o rosto, esticar a
perna, tomar um café. Quem vai dirigir à noite necessita de um dia inteiro de
tranquilidade e descanso”- aconselha Dager.
O
especialista explica que “um dos maiores riscos nas estradas são os
caminhoneiros submetidos à privação do sono. Tomam medicamentos para não dormir
e dirigem dias seguidos. Isso é um perigo porque ficam lentos e desatentos.
Muitos têm excesso de peso e sofrem uma predisposição para períodos de
sonolência”, disse. Dager aconselha ainda que quando a pessoa estiver muito
cansada, a única solução é parar num posto ou num hotel para descansar.
Registre-se
que o ‘rebite’ é uma droga cujo uso terapêutico auxilia principalmente na moderação
do apetite. É uma droga sintética fabricada em laboratório e facilmente
encontrada nas farmácias (quem receita e quem fiscaliza?), que são obrigados a
vendê-la sob prescrição médica. Os médicos explicam também que tal droga é
estimulante e que altera o psiquismo, aumentando, estimulando ou acelerando o
funcionamento do cérebro e do sistema nervoso central.
A
grande questão é que também provoca, como efeito colateral, esgotamento físico
e mental e torna caminhoneiros em assassinos em potencial ao volante, quanto
mais quando se dirige num país com boa parte de sua malha rodoviária mal
pavimentada e sinalizada e em péssimo estado de conservação. O ‘rebite’ é pois
um perigoso componente de incremento nas trágicas estatísticas de acidentes em
estradas e rodovias, que como no caso do acidente da Serra Gaúcha acabou com a
vida e os sonhos de duas vítimas inocentes. Até quando tal droga prosseguirá
sendo consumida por imprudentes caminhoneiros, muitas vezes fornecidas por
alguns irresponsáveis empresários?
Com
a palavra as autoridades responsáveis pela fiscalização do trânsito rodoviário
no Brasil. Urgentes medidas de contenção ao consumo do‘rebite’ precisam ser
tomadas. Trânsito é meio de vida, não de mortes, dor, tragédias, sofrimento e
mutilação.
Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de
Janeiro
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