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*Laércio Soto
Com 2023 no
nosso espelho retrovisor, é hora de olhar para frente e avaliar o rumo
da indústria automotiva. Embora não tenham faltado manchetes no
noticiário sobre as lutas e oportunidades para este setor, ainda existem
alguns tópicos que dominam o
debate internacional.
Por exemplo, a
revolução dos veículos elétricos que todos ansiamos ainda tem vários
obstáculos a ultrapassar, entre os quais, a adoção pelos consumidores.
Estamos assistindo à entrada de alguns novos intervenientes na cena
automotiva mundial, o
que poderá significar boas notícias para os consumidores, mas uma maior
concorrência para os fabricantes da União Europeia e dos Estados Unidos.
E, por último, a supply chain do setor automotivo continua a ser analisada minuciosamente, em
grande parte devido aos desafios trazidos à luz pela recente pandemia.
O setor
automotivo está passando por grandes mudanças, principalmente quando o
assunto é sustentabilidade e tecnologia. Esses dois pilares irão reger o
mercado de autos, que, em 2023, sofreu com a crise da falta dos chips
semicondutores, devido à
guerra entre Rússia e Ucrânia, que ainda não terminou.
O setor automotivo é afetado por regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas. Adaptação a padrões mais ecológicos pode representar desafios tecnológicos e de investimento. O maior “case” do setor automotivo há algum tempo tem sido a eletrificação dos veículos. No entanto, parece que o movimento EV sofreu uma espécie de “choque de realidade” no que diz respeito à velocidade de adoção pelo consumidor. O final de 2023, a América do Norte assistiu a uma retração acentuada no sentimento do consumidor em relação aos VE, sinalizando aos Fabricantes de Equipamento Original (OEM) que a velocidade de aceitação dos veículos pode ser uma jornada mais longa do que o previsto.
No Brasil, as vendas de veículos elétricos leves atingiram um patamar recorde de quase 94 mil unidades em 2023, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Em dezembro, as vendas de carros elétricos alcançaram 16.279 unidades, crescimento de 191% em comparação com dezembro de 2022 (5.587). A ABVE afirma que os números de 2023 indicam uma transformação no mercado de veículos eletrificados no Brasil, impulsionada pelos veículos plug-in (com recarga externa das baterias). Conforme recentemente noticiado, esse novo nicho ainda gera muitas dúvidas, relacionadas a peças de reposição e assistência técnica no pós-venda, fato esse que pode ter impacto direto nas vendas e no crescimento desse nicho.
Há uma nova
onda de fabricantes de automóveis e OEM chineses e indianos começou a
comercializar os seus produtos no estrangeiro, na União Europeia, nos
EUA e na África, locais em que marcas de longa data como a Toyota e a
Volkswagen estão perdendo
uma fatia de mercado significativa. Resta saber até que ponto será
bem-sucedida à entrada nestes novos mercados, dado que a sua
concorrência está muito bem estabelecida.
A melhoria
contínua da qualidade e a manutenção de custos de produção mais baixos
proporcionaram à China uma oportunidade de ganhar uma posição nos
mercados automóveis globais estratégicos. Da mesma forma, a Índia está
prestes a tornar-se o
maior fabricante mundial de automóveis nos próximos cinco anos. O país
também ganhará nas exportações, com vários OEMs anunciando novos
investimentos nos próximos anos. O país ocupa atualmente o terceiro
lugar no mercado global, tendo
ultrapassado o Japão e deixando apenas os EUA e a China à frente.
Em termos de
espírito empresarial, os fabricantes de automóveis chineses e indianos
operam frequentemente dentro de normas e valores diferentes em
comparação com os seus homólogos ocidentais, trazendo novas perspectivas
ao design, ao serviço ao
cliente e ao marketing.
O Brasil ainda
enfrenta desafios relacionados aos altos custos de produção, incluindo
impostos elevados, burocracia e encargos trabalhistas. Isso afeta a
competitividade da indústria automotiva nacional em comparação com
outros mercados. De acordo
com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea), as projeções para o desempenho do setor em 2024 apontam um
crescimento de 4,7% da produção. Isso corresponde a cerca de 2,47
milhões de veículos que devem ser produzidos
pela indústria. Os números, no entanto, continuam abaixo do patamar
superior a 2,9 milhões de unidades de antes da pandemia e da crise. As
políticas governamentais, como incentivos fiscais e programas de
financiamento, podem influenciar positivamente
o mercado automotivo, promovendo o crescimento e a modernização da
indústria.
As
preferências dos consumidores estão sempre evoluindo. A compreensão das
mudanças nos estilos de vida e preferências de compra é fundamental para
as empresas que desejam antecipar e atender às demandas do mercado.
Atualmente as
perspectivas para o mercado automotivo brasileiro apontam na direção da
expansão do mercado de veículos elétricos; espera-se que o Brasil siga
essa tendência, incentivando a expansão da infraestrutura de
carregamento e a produção
deste tipo de automóvel. A crescente importância da digitalização e
conectividade em veículos oferece oportunidades para empresas que
conseguem se adaptar a essa tendência; serviços como carros autônomos e
sistemas de entretenimento conectados
podem ganhar destaque neste ano.
Em um ambiente de mercado desafiador, as empresas automotivas devem buscar alianças estratégicas para compartilhar custos, tecnologias e competências, promovendo a inovação e a eficiência, além do mais, o consumidor está cada vez mais consciente e empenhado em apoiar empresas que tenham um conceito ESG mais apurado. Este é o caminho.
*Laércio Soto é CEO para o Brasil da RSM, 6ª maior empresa de Auditoria, Consultoria, Tributos e Contabilidade do mundo.
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