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*Por Roberto Cerdeira,
A mobilidade urbana é, definitivamente, o grande desafio das
metrópoles contemporâneas em todas as partes do mundo. Durante o século passado
vimos o automóvel se consolidar como uma solução ideal para a necessidade de
transporte da época, chegando a se tornar o verdadeiro sonho de consumo
popular. Hoje, porém, com o aumento desenfreado da frota de carros e o
surgimento de problemas como excesso de trânsito e poluição, o cenário parece
ser um pouco diferente. O automóvel já não é mais o mocinho da história.
As cidades estão, cada vez mais, se adaptando com base no
que chamamos de integração modal – conceito que traduz a oferta de uma solução
eficiente de circulação urbana, desenvolvida com base em diferentes modalidades
de transporte (modais) interconectadas entre si. A partir desse conceito, não
apenas algumas soluções coletivas tradicionais como ônibus e metrô ganharam
ainda mais força, como também entraram em cena a facilitação e o incentivo a
meios alternativos. É o caso da bicicleta, cujo uso vem sendo estimulado por
meio do aumento no número de ciclovias e do surgimento de sistemas de
bicicletas públicas, que podem ser emprestadas ou alugadas. Mas e os
automóveis, como se encaixam nesse contexto?
O fato é que o mercado automobilístico encontra-se hoje em
meio a uma verdadeira revolução. Se por um lado tecnologias como os carros
elétricos e autônomos prometem proporcionar soluções infinitamente mais
sustentáveis e confortáveis, por outro, sistemas de carona e carros
compartilhados também modificam a forma como as novas gerações utilizam este
meio de transporte. Apesar de todas essas influencias e incertezas, uma coisa é
certa sobre o futuro dos carros: eles não vão desaparecer. E sabendo disso, é
necessário estarmos devidamente preparados para conduzirmos o futuro das nossas
frotas da melhor maneira possível.
Os carros serão sempre uma parte importante do sistema de
mobilidade urbana, e na mesma velocidade com que novas tecnologias de
transporte são desenvolvidas, as cidades precisam se preparar para recebê-las.
No caso do automóvel, isso significa investir em uma infraestrutura que não
apenas comporte a quantidade de carros atual, como também seja segura e pouco
invasiva para os pedestres. Na prática, isso significa enxergar os automóveis
como mais um modal de transporte, e integrá-los efetivamente à malha de
transporte urbano.
A partir do momento em que estacionamentos são construídos
junto a metrôs, por exemplo, com boa infraestrutura e custo acessível, o carro
torna-se uma alternativa viável para conexão em percursos mais distantes. No
caso de metrópoles como São Paulo, iniciativas como esta impactam diariamente
milhares de pessoas, que conseguem agilizar o seu trajeto até o trabalho por
meio da utilização do automóvel integrado com o transporte público (no caso da
capital paulista, metrô, trem e ônibus).
Outro exemplo são os bolsões de estacionamento subterrâneos,
um modelo bastante utilizado na Europa, mas ainda pouco explorado no Brasil.
Basicamente, são garagens similares às que conhecemos hoje, porém completamente
automatizadas e com monitoramento remoto através de câmeras para a segurança do
cliente. Este modelo tem se mostrado uma solução eficaz para grandes centros,
justamente por ser prática, econômica e pouco invasiva aos pedestres, uma vez
que sua superfície permanece livre para ocupação pública.
É fato que no Brasil ainda há muito trabalho a ser feito
para conquistarmos uma mobilidade urbana realmente eficiente, de baixo custo e
confortável. Os investimentos para isso são altos, e devem vir não apenas no
poder público, mas também da iniciativa privada. Existe ainda muito espaço para
a profissionalização da indústria de parking no Brasil, que está justamente no
centro desse movimento e pode ser muito beneficiada a partir de investimentos
corretos.
Um olhar atento para tendências e oportunidades de
integração modal e automação pode, certamente, garantir a viabilidade de
investimentos desse tipo. Na Europa, por exemplo, muitos estacionamentos
automatizados já operam sem a presença física de funcionários, que atendem
demandas de clientes através de centrais de controle remotas.
A automação também pode ser a chave para solucionar
problemas comuns do dia a dia e que ajudam a sobrecarregar o trânsito, como a
dificuldade de encontrar vagas em ruas de determinadas regiões, ou mesmo o
desconforto das chamadas zonas azuis. Hoje já existem diversas tecnologias que
possibilitam esse monitoramento em tempo real e indicam os melhores lugares
para se estacionar, tornando o percurso muito mais assertivo – e consequentemente
mais rápido. Isso sem contar os inúmeros benefícios gerados pelos aplicativos
de trânsito e navegação, que aumentam a diversificação de fluxos e rotas.
Além de solucionar questões de trânsito, a tecnologia também
garante maior conforto e comodidade aos usuários de carros. Podemos citar desde
a compra online de vagas de estacionamento, que permite que o usuário se
programe com antecedência, como o uso de aplicativos, que garante maior
agilidade para localizar as garagens; ou mesmo a viabilização de tarifas
dinâmicas e programas de fidelidade, que beneficiam clientes frequentes ou
aqueles fora do horário de pico.
Se quisermos mesmo melhorar a nossa mobilidade urbana,
precisamos olhar não apenas para a requalificação do transporte público, como
também a ressignificação dos modelos privado e individual. Reduzir ruídos,
poluição e custo, elevando conforto e agilidade de fluxo, é uma meta válida
para todos os modais, sejam eles ônibus, metros, vans, carros, motos, etc. E
para que essa meta seja cumprida, não podemos simplesmente ignorar a relevância
dos automóveis dentro do nosso sistema. Precisamos, na verdade, incluí-los de
forma estratégica.
*Roberto
Cerdeira é CEO do Grupo Pare Bem Estacionamentos, detentor de uma das maiores
plataformas de estacionamentos do Brasil, e que busca estabelecer um novo
padrão de eficiência para a indústria nacional. A empresa é atualmente
responsável pela gestão de mais de 170 garagens em shoppings, aeroportos,
edifícios comerciais e outros tipos de empreendimentos, contabilizando cerca de
92 mil vagas em 35 cidades do Brasil.
Fonte: Ideal H+K
Strategies
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