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Por
Creso de Franco Peixoto
A
onda de financiamento fácil de automóveis no biênio passado, com longo prazo de
pagamento, onde a reduzida parcela mensal se contrapõe ao elástico prazo de 60
meses para pagar, soma-se ao quadro de desaquecimento da indústria, à carga
tributária excessiva e aos elevados custos da energia elétrica, fatores de
desaquecimento econômico. O resultado desta operação matemática tende a zero.
Automóveis
desvalorizam com dois dígitos percentuais no primeiro ano e mantêm
significativa taxa de desvalorização nos anos subsequentes, até a sua morte
econômica, no final da vida útil. Ao término do primeiro ano de pagamento do
longo e barato financiamento em ambiente de esfriamento de produção industrial,
inadimplentes encontram valor residual do financiamento maior do que o valor
real do bem.
Fica
devedor se quiser devolver. Há veículos com depreciação de 40% no primeiro ano.
Financiados em valor integral e linear por 60 meses, paga-se 20% do bem no
primeiro ano. Uma diferença de 100% em relação ao valor do consumo veicular, na
data do primeiro aniversário.
A
baixa taxa de juros do financiamento se torna armadilha. Caso tivesse optado
por leasing, arrendamento com direito de compra ao final, devolveria
simplesmente o veículo e ainda não pagaria Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF). Esta é a melhor solução?
A
emoção incita compradores. Cases de marketing automobilístico exultam beleza
enquanto esquecem custos. Financiadoras mostram felizes compradores assinando
contratos. Não há propaganda que cite custos anuais ou que apresente o risco da
prestação vencida, tal como ocorre em propaganda de cigarros, que deixam claros
os riscos do tabagismo. Carro deve ser comprado após se avaliar custos e
necessidade. Muitos compram gigantescos veículos para levar a família em raro
passeio anual enquanto usam o produto de forma solitária, nas cotidianas
viagens casa-trabalho-casa.
Há
outro cenário. O da leitura das viagens necessárias associada à disponibilidade
do transporte urbano e ao custo de táxis ou veículos alugados. Sim, é possível
não precisar ter carro! Infelizmente, a típica oferta brasileira do transporte
público ainda não premia esta possibilidade. O dinheiro do carro poderia ser
aplicado no mercado financeiro. Imóveis, bens efetivos de aplicação de capital,
que desvalorizam menos de 2% ao ano, seriam ideais para o longo prazo e com
risco baixo. Minimizaria a deseconomia popular do consumismo desenfreado.
A
política de financiamento veicular fácil se mostra, portanto, insustentável.
Alie-se ao quadro da forte motorização e de insuficientes recursos e ineficientes
programas de implantação e ampliação do transporte público. Projeta cenário de
congestionamento urbano sob modelo de saturação, quando os atrasos nas viagens
evoluem geometricamente.
A
estratégia de venda veicular sob conceito de que, para classes socioeconômicas
D e E, basta buscar viabilizar o valor da prestação, tirando o foco do valor
final e da taxa de juros, gerou quadro de excepcional inadimplência. Carro sem
entrada, carro sem saída.
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