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De
protetor de unhas para quem rói as unhas, até um desembaçador para espelhos de
banheiro, ele afirma ter mais de 800 ideias na cuca para serem peneiradas,
patenteadas e desenvolvidas.
Hoje vamos
entrevistar o inventor Paulo Gannam, que vai falar sobre duas de suas criações
voltadas para o setor automotivo e para as quais está à procura de parceiros.
São elas: Um Sensor
Auxiliar de Estacionamento para proteger pneus, rodas e calotas do contato com
o meio-fio e um Sistema de
Comunicação entre Motoristas que promete criar um clima amistoso e de
cooperação no trânsito – prevenindo acidentes.
Como surgiu a ideia de criar um
sistema específico para proteger pneus, rodas e calotas junto ao meio-fio?
Gannam: Foi
mais ou menos no final de 2010. Tinha acabado de tomar um cafezinho numa
lanchonete. Subindo a pé uma das ruas de minha cidade, ouvi um estrondo. Olho
para trás. Tratava-se de uma pessoa que tinha sensor de para-choque em seu
carro, mas que, ao encostar o veículo, chocou fortemente as rodas na calçada.
Olhei para aquilo e me lembrei de minhas “periódicas barbeiragens”, e das de
minha mãe também, e do quanto aquilo gerava tensão, prejuízos estéticos, etc.
Quais foram suas maiores dificuldades
ao levar esta ideia adiante?
Gannam:
a)encontrar
uma boa assessoria jurídica capaz de formatar o pedido de patente com
qualidade, com maiores chances de receber a carta-patente
b)encontrar
um desenvolvedor capaz de me ajudar a desenvolver as primeiras provas de
conceito do produto a preços acessíveis (procurei sem cessar por uns 3 anos até
encontrar)
c)encontrar
espaço em parte da mídia geral e da mídia automotiva para mostrar às pessoas o
que eu tinha criado
d)ter de
aceitar o fato de que os programas públicos de apoio a inventores independentes
são péssimos e de que teria de encontrar outros caminhos, não importasse o
quanto isto demoraria
e)ter de
aceitar a irredutível visão high-tech de algumas pessoas que, ao invés de
enxergarem este projeto como uma ótima oportunidade de negócios, consideram o
produto um retrocesso pelo simples fato de já existir um carro-autônomo rodando
aqui e ali. Não são capazes de entender que inovação e modelos de negócio
lucrativos nascem muitas vezes de soluções muito simples. Estão esquecendo de
que relatórios recentes dão conta de que só 4% dos 2 bilhões de carros no mundo
em 2035 será autônomo. Isto quer dizer que mais de 95% dos carros estarão sem
recursos autônomos quase 20 anos a partir de agora. E mesmo as empresas que
tentarem lançar estas funções semiautônomas no mercado de reposição terão um
problema de aceitação no preço nos países em desenvolvimento.
Quanto gastou em média nessa
invenção?
Gannam: Incluindo
pagamento de advogados, de taxas, anuidades, exames ao INPI e aos demais órgãos
de propriedade intelectual, desenvolvimento de prova de conceito, e todo o
tempo e esforço pessoal que uso até hoje com divulgação, negociação, melhorias,
etc, por baixo, uns 50 mil reais ao longo dos anos. Lembrando que tive esta
ideia mais ou menos no final de 2010.
Você já testou em algum automóvel?
Como foi a experiência?
Gannam: Sim,
testamos a prova de conceito desenvolvida instalando um sensorzinho próximo de
uma das rodas e funcionou bem. Veja:
Este sensor
pode, por exemplo, comunicar-se com um app, cluster, painel do veículo com
display ou central multimídia, de acordo com o gosto do freguês e das formas de
fazer da empresa que inserir o produto no mercado. Só que para ser compatível
com a maioria dos veículos de passeio e para a maioria das calçadas de nosso
país, temos de pensar que no Brasil não existe padrão. Cada calçada é de um
jeito e cada chassi tem uma altura.
Então, para
realizar leitura precisa em 100% das situações ou na maior parte dos modelos de
veículos, o projeto pode exigir um desenvolvimento mecânico e de design. Assim,
uma alternativa será adotar um dispositivo para posicionar estes sensores no
local adequado para a leitura precisa.
Estes mesmos
detectores de distância poderão ser embutidos e colocados abaixo da lataria
lateral, cada qual o mais próximo possível de uma das rodas, totalizando, à
primeira vista, 4 sensores.
Já apresentou essa ideia a alguém?
Se sim, o que acharam?
Gannam: Sim, já
apresentei a vários sistemistas e montadoras e continuo apresentando. Em parte,
pelo fato de o momento econômico não ser bom, investidores estão ainda um pouco
receosos, pois as classes principais a que inicialmente se destinaria este
produto estão com outras prioridades. Mas consideram que o projeto teria boa
vazão no aftermarket e, possivelmente, num espectro específico de veículos em
montadoras.
E eu
concordo. Mas as montadoras também tem suas prioridades. Estão focadas em
redução de CO2 nos veículos, em carros elétricos, conectados, autônomos, enfim,
projetos que consideram mais urgentes e-ou de longo prazo. O cenário é
complexo, resta-me ser o oposto – simples. Ou seja, continuar perseverando,
fazendo a minha parte, pois estou certo de que o produto tem diferenciais
competitivos importantes, tanto no preço, quanto na utilidade.
Ele salva
nossas rodas, poupa-nos de micos, e nos ajuda a estacionar, sendo muito mais
barato por ser dotado de componentes mais acessíveis. Já os ADAS ( Advanced
Driver Assistance Systems) atolam o carro com sensores, câmeras e softwares que
esvaziam sua carteira, não protegem suas rodas dianteiras, e nos irritam com a
leitura e movimentos demorados para estacionar o carro numa simples vaga.
A ideia
central é de que você não precisa necessariamente de uma função semiautônoma
para poder fazer um estacionamento seguro e preciso e também de que não
precisará gastar horrores com aquela parafernália de câmeras que calculam a
distância. É você, com o auxílio de 4 sensores, quem vai manobrar com liberdade
e precisão – e sem esvaziar o bolso! Vai estar pagando por um produto mais
eficiente e mais barato.
Quanto custaria para uma pessoa
instalar esse sensor no seu automóvel?
Gannam: Isto
dependeria também das margens de lucro com as quais trabalharem os fabricantes,
distribuidores e varejistas. O custo médio de fabricação, por ponto, está em
torno de 13 dólares. Imaginando uma pessoa que deseje colocar 4 sensores, um
para cada roda, 13X4 sensores = 52 dólares. Convertendo em reais = R$ 173,00.
No varejo/aftermarket, eu estimo um valor em torno de R$ 900,00 (versões
simples) a 1.300 (verões Premium). Lembrando que se poderia dar a opção de o
consumidor instalar quantos sensores quiser (só na frente, só atrás, próximo só
daquela roda que costuma bater com mais frequência, etc).
No sistema tradicional de
estacionamento, os sensores são colocados nos para-choques. Como eles são de
plástico, é fácil cortar. No seu invento, como os sensores são colocados na
lateral? Eles são acoplados nos aros? Se sim, como evitar roubos?
Gannam: Em carros
de passeio, em princípio, não seria nos aros. Os sensores deverão ser colocados
abaixo da lataria lateral, cada qual o mais próximo possível de uma das rodas,
totalizando 4 sensores. Para minimizar o risco de roubos, pode se criar uma
embalagem diferenciada, que se transformaria numa extensão da região lateral do
veículo, ou outras formas de fazer, como circuitos autodestrutivos (se a pessoa
roubar, não funciona mais).
O seu sistema se comunica com o dos
sensores frontais e traseiros, de forma que o usuário veja e ouça os avisos
através dos dispositivos já existentes no carro? Se sim, como o usuário
identifica se o aviso diz respeito a um obstáculo frontal/traseiro ou lateral?
Gannam: Isto vai
depender de em que modelos de veículos será lançado o produto e sobre se o
motorista irá querer ter tanto sensores de para-choque como sensores de roda em
seu veículo. A programação do produto e sua conexão com demais produtos
dependerá de uma configuração adotada pelo sistemista ou pela montadora que se
interessar em fabricá-lo e lança-lo no mercado.
Mas vamos
supor que uma pessoa adquira um veículo no qual já haja sensor de ré vindo de
fábrica. Então, ou o display fabricado pela montadora já estará configurado a
receber novas leituras, ou o sistema somente poderá sair de fábrica. Outra
opção é combinar o uso dos novos sensores laterais com um App em cuja
visualização da distância fosse feita no smartphone ou na própria central
multimídia. Saída técnica tem, é uma questão de estudar o caso concreto na hora
do planejamento do produto.
Sobre o sistema eletrônico de
comunicação entre motoristas, como funciona? Seria um acessório, a ser
comprado pelo motorista, ou incluso em centrais multimídia pelas próprias
montadoras? Você diz que não precisa de internet. De que forma acontece a
comunicação?
Gannam: Ambos os
caminhos são possíveis. Estamos falando de um dispositivo eletrônico de
comunicação imediata que congrega várias tecnologias de envio e recebimento de
mensagem. Ele avisa, com frases bem curtinhas, qualquer problema/situação
identificável em um veículo ou nas estradas. Cada mensagem contará com uma
numeração/desenho, identificados no painel, na central multimídia, ou no
próprio volante do carro.
Esses botões,
com um único clique do motorista, acionam a mensagem exata que se deseja enviar
a outro motorista ou central, não tirando a atenção por ser de fácil de
manusear.
Neste caso
especial de comunicação entre um novo hardware e outro, a tecnologia não
depende de internet e oferece a possibilidade de comunicação entre gestores do
trânsito e motoristas, campanhas de educação no trânsito. A ideia é criar um
clima amigável e solidário à medida que os motoristas forem se habituando a
apertar o botãozinho. O mais livre de intermediários possíveis, sem ter de
procurar o recurso de comunicação entre tantos outros nos aplicativos num
momento tão delicado quanto é o da direção. Usou o dedinho e pronto: mensagem
enviada.Sem entortar a coluna, virar o pescoço ou fazer algum movimento mais
comprometedor dos olhos.
Mas que tipos de mensagens poderiam
ser trocadas?
Gannam: Algumas
possibilidades: “luz queimada”, “pneu murcho”, “emergência”, “farol alto!”
(quando o cara cola na sua traseira e esquece o farol alto acionado), “pessoa
doente no carro” (às vezes o motorista está em baixa velocidade por isso),
animal/deslizamento à frente”, “incêndios”,”aquaplanagem”, “desculpe”,
“obrigado” e assim por diante.
Além da comunicação entre dois
hardwares será possível alguém participar sem ter o aparelhinho instalado no
veículo?
Gannam: Com
certeza. Depois que concluímos o primeiro protótipo, comecei a me fazer novas
perguntas. Como os todos carros terão o sistema de uma só vez? Impossível. Um
sistemista, ou vários deles, precisariam convencer todas as montadoras a adotar
o projeto em localidades selecionadas com muita pesquisa e planejamento para
testes.
O que
proponho é que algumas montadoras adotem o sistema. E que empresários do
aftermarket automotivo encontrem um modelo de negócio lucrativo para o
aparelhinho. Só que, nesse caso, os primeiros adotantes ficariam ilhados na
participação da comunicação, pois a maior parte dos veículos ainda não teria o
Comunicador instalado e, sem um planejamento/validação mais profundo, é difícil
compreender a escalabilidade que o Comunicador teria isoladamente, se é que
teria.
Por isso,
desenvolvemos um aplicativo voltado especificamente para a comunicação rápida e
segura que já pode interagir com os Comunicadores. Com isso vamos incluir
o maior número possível de pessoas neste conceito inventivo especializado na
comunicação segura no trânsito.
Algumas montadoras vêm falando sobre
essa possibilidade de troca de informações entre veículos como uma coisa para o
futuro. Sua invenção estaria pronta para ser executada em larga escala
hoje? Qual o custo dela?
Gannam: Eu costumo
dizer que se carros autônomos e tecnologias V2V são o futuro, o Comunicador
Gannam é o presente! Meu projeto não diz respeito à comunicação entre veículos,
mas sim a um tipo de comunicação muito especializada e segura entre motoristas!
Sua implementação
comercial tem menos barreiras legais e necessidade de homologações, é acessível
ao grande público, e com custo de fabricação de 20 dólares por unidade.
Além disso,
quando um motorista pode conversar com o outro que está próximo, e este próximo
pode conversar com um terceiro condutor, todos vão ser capazes de substituir o
excesso de dados compartilhados por meio da única coisa que os robôs e
tecnologias V2V não possuem: intuição.
Os recursos
de conectividade que algumas montadoras estão implementando acarretam, em
média, um custo de 500 dólares a mais por veículo na fabricação – uma porção
descomunal do valor do veículo nas mentes dos consumidores.
Segundo uma
pesquisa do Autotrader.com 56% dos proprietários de veículos disse que iria
mudar para uma marca de veículo diferente para obter os recursos digitais que
eles querem. Mas acredito que os consumidores não devem tentar controlar
totalmente o processo de design para recursos de informação e entretenimento.
Até mesmo os
motoristas que estão clamando por novas tecnologias consideram sua segurança
fundamental. Esse mesmo levantamento constatou que 84% dos proprietários de
veículo dão maior valor às características de segurança, em detrimento das de
informação e entretenimento. Nesse contexto, meu sistema pode ser uma
alternativa interessante e complementar aos sistemas que estão sendo projetados.
Gostou da entrevista? Conheça um
pouco mais sobre o trabalho do Paulo Gannam aqui:
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