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Nos
meus tempos de infância e adolescência, a diversão era andar de bonde e,
principalmente, subir e descer com o carro em movimento. Não ligávamos se era
perigoso ou se o condutor dava tranco nas arrancadas e paradas. Lembro, também,
da minha irresponsabilidade quando pedalava minha bicicleta e, para assustar o
condutor, eu passava entre dois bondes que se cruzavam na Avenida Rangel Pestana,
no bairro Brás.
Depois
veio o trem, sobretudo nas viagens mais longas e, para entrar no vagão
principal, era exigido o paletó para os homens adultos.
Ingressei
no jornal e, logo em seguida, comprei o meu primeiro carro, um DKW com motor de
dois tempos e um barulho para lá de empolgante. Depois vieram o Fusca, o Dodge
Dart, o Corcel e muitos outros modelos da Ford que nem são mais produzidos.
Foram
mais de 60 anos dirigindo quase todos os tipos de automóveis e, procurando ser
suave quando necessário, e audacioso e imprudente na maior parte do tempo,
ainda mais quando o assunto era testar os novos modelos.
Ainda dirijo, mas agora, um problema de alergia ocular está me afastando temporariamente do volante. Por isso, experimentei outro dia a opção do transporte coletivo e que saudade senti dos bondes e trens.
Fazia tempo que não me sentia tão desconfortável durante um trajeto. E olha que o ônibus era equipado com câmbio automático e o percurso plano e em via segregada.
A cada parada e partida, um sentimento de desconforto que não me lembro de nunca ter sentido, nem mesmo quando experimentei um Urutu, desenvolvido pela Engesa para o Exército Brasileiro. E fiquei pensando em como pode, em pleno século 21, com toda a tecnologia e eletrônica disponíveis sermos obrigado a enfrentar tal experiência desagradável, ainda mais na tão festejada melhor idade (à qual ainda não me acostumei e nem me conformei).
Falta
disposição, boa vontade, treinamento, amor pela profissão e importância para os
órgãos gestores.
Sei
que não estou dando nenhum furo e nem contando uma novidade, mas ao volante por
tantos anos, nunca aceitei uma condução dessa forma, nem dos meus dois filhos
mais velhos quando os ensinei a dirigir, ambos com cerca de 9 anos!
O que
mais me intriga é que, justamente quando não se tem a opção de dirigir, porque
somos obrigados a enfrentar uma situação tão desagradável. Chega a ser
humilhante. Imagino para quem faz uso do transporte coletivo todos os dias há,
por exemplo, 20 anos!
Mas
voltando à tecnologia e eletrônica, fico pensando por que os fabricantes e os
operadores não instalam softwares que impediriam a partida brusca e a frenagem
abrupta e agressiva?
Uma
programação que, mesmo o motorista pisando fundo ou freando intempestivamente,
o veículo não obedecesse e fizesse partidas e frenagem suaves e progressivas.
O
acelerador eletrônico com programação adequada poderia prover tal conforto para
os passageiros e garantir a segurança dos menos jovens como eu que podem ter
dificuldade em se equilibrar em pé nessas situações.
O mais
engraçado é que no passado, o condutor dos bondes era uma figura ilustre e
garbosa, respeitado e próximo dos passageiros.
O
motorista de ônibus (é claro que existem muitas exceções) parece de mal com a
vida e inimigo do passageiro, como se houvesse uma rixa, tipo a existente entre
os motoqueiros (e não motociclistas) e os taxistas, ou entre os automóveis e os
veículos maiores, como caminhões e ônibus.
Com a
maior longevidade das pessoas, que depois dos 60, 65, 70 ou mais anos ainda
podem aproveitar a vida, entendo que querer prover mobilidade sustentável para
a população deveria também passar por essas questões.
De
nada adianta mais tecnologia e veículos menos poluentes se o passageiro
continuar a ser transportado para cá e para lá como gado (pelo menos era assim
como nos referíamos, por serem transportados em pé e soltos, sem nenhuma
segurança) ou então como pau-de-arara (alusivo ao transporte de trabalhadores
rurais ou dos irmãos nordestinos) que vieram para o sudeste em busca de uma
vida de melhor qualidade e compensação financeira.
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Crédito das imagens: Arquivo Internet | Fonte: secco@secco.com.br
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